O mercado de segurança empresarial no Brasil tem apresentado grande evolução. Nas décadas de 1960 e 1970, a maioria dos profissionais de segurança vinha das carreiras militares. Alguns desses homens se destacaram por conseguir adaptar seus conhecimentos militares ao ambiente empresarial e à realidade dos negócios. No começo dos anos 2000, surgiram no Brasil os primeiros cursos universitários de segurança aprovados pelo MEC, nos quais se aprendia além dos conhecimentos específicos de segurança, conceitos fundamentais de gestão e administração de empresas. Nesse momento, muitos profissionais que já tinham entre dez e vinte anos de carreira na área de segurança voltaram aos bancos escolares buscando o profissionalismo exigido pelo mercado.
Atualmente a segurança empresarial ou corporativa pode ser entendida como o conjunto de medidas, posturas, ações que uma empresa adota visando proteger pessoas, patrimônio, informação e imagem da organização. Dentro deste vasto universo de proteção, a segurança corporativa preocupa-se com inúmeros riscos, desde o combate a incêndio até a perda da confidencialidade de ativos intangíveis, por exemplo.
O termo “segurança”, pode ser entendido como condição para “prevenir perdas”. “Segurança” deriva do latim securus, quer dizer, “livre do perigo” ou “seguro”. Segundo o Instituto Americano de Arquitetos (em inglês American Institute of Architects – AIA apud MOREIRA, 2007: 44), “segurança é a proteção dos bens contra os efeitos de ameaças e perigos”. Sendo mais específico, entendemos que segurança empresarial visa proteger ativos (patrimônio) materiais e imateriais, isto é, bens, processos, pessoas, informações e imagem de determinada empresa ou organização. Para tanto, o diagnóstico de segurança é o primeiro passo, e se dá a partir da análise dos riscos envolvidos, vulnerabilidades, ameaças, impactos e probabilidades. Só então, pode-se desenvolver um planejamento de segurança eficiente e eficaz para proporcionar proteção.
O conceito de violência é um dos mais difíceis de definir dentro das Ciências Sociais, porém, entendemos violência como expressão de força física ou verbal contra si ou outro, ação constrangedora contra a vontade do outro, sob o risco deste ser ferido. O risco está associado às vulnerabilidades, ameaças e a eminência de um sinistro – evento com consequências danosas (a análise de impacto é um processo que estima o potencial de perdas resultantes dos efeitos de um sinistro). Com relação ao conceito de ameaça, este pode ser a percepção de insegurança, o agente causador do dano (explícito ou implícito) entre dois atores. Já no conceito de “vulnerabilidade” podemos entender como a suscetibilidade a danos, ataques físicos ou emocionais. O medo, por sua vez, está ligado à situação que leva o indivíduo ao estado de alerta, temor, apreensão. Já a probabilidade está relacionada às possibilidades de realização de determinado evento, pode ser subjetiva (qualitativa) ou objetiva (quantitativa/matemática). Finalmente, impacto é um conceito que mede os efeitos negativos e/ou positivos, de uma ação ou evento, normalmente podendo ser traduzido em valores monetários.
A estrutura de segurança e proteção tem que estar viva para acompanhar o modus operandi dos criminosos, que por sua vez, acompanham a evolução da tecnologia. Por exemplo: existiu uma época onde uma simples tramela era suficiente para conter a entrada de pessoas indesejadas. Com o passar do tempo, fechaduras metálicas foram desenvolvidas e o criminoso passou a utilizar chave micha para abrir portas e cadeados. Com a evolução da tecnologia, passamos a nos deparar com fechaduras que solicitam o toque dos nossos dedos, que precisam de senha ou da nossa impressão digital.
A segurança pode ter como objetivos os bens (ativos) e as pessoas. Os bens se subdividem em tangíveis (ex.: carros e computadores) e intangíveis (ex.: informações e imagens). O crime contra bens e pessoas pode ser pensado sob a forma de um triângulo, cujos vértices são: oportunidade, conhecimento técnico e motivação (atratividade). Para que o crime ocorra, os três vértices do triângulo devem estar disponíveis para o criminoso, sendo a oportunidade o único vértice sobre o qual se pode atuar preventivamente.
Vamos falar um pouco da arquitetura dos prédios onde estão as empresas. Se for desenvolvida uma estrutura predial que elimine ou reduzam as oportunidades, diminuem as probabilidades de ocorrência de crimes. Lembramos que o criminoso segue uma lógica parecida com a do empresário: para dar início ao crime, existe o estudo entre retorno (lucro) e risco da atividade, visando obter rentabilidade com os riscos assumidos na ação criminosa. A chave está no risco, que pode motivar ou desencorajar o ser humano. Entendendo o risco podemos desenvolver sistemas de proteção eficiente.
É também com o estudo do risco e de seus possíveis impactos financeiros, que entenderemos qual será o investimento adequado a ser feito para conduzir o nível de risco ao patamar desejado pela organização. Deve existir equilíbrio entre investimento, nível de risco aceito pela empresa e possíveis impactos.
Um projeto de segurança empresarial eficiente deve ser elaborado por profissional capacitado que, além de conhecer os sistemas de segurança disponíveis no mercado, compreende a estética da edificação e sua funcionalidade, tornando a implantação do projeto bem-sucedido. O projeto de segurança também pode ser elaborado a “quatro mãos”, o desenvolvimento multidisciplinar que une arquiteto, engenheiro, gestor de segurança e áreas operacionais da organização, tem sido um modelo no qual se tem obtido sucesso. É necessário que o projeto arquitetônico concilie sistemas prediais usuais aos sistemas de segurança empresarial, dando importância à utilização de ferramentas e métodos adequados, levando em consideração riscos, ameaças e vulnerabilidades aos quais a edificação será submetida. O nível de segurança está condicionado à atratividade dos bens e pessoas que lá estarão.
Dividimos os recursos utilizados na segurança empresarial em: a. técnico (ativo e passivo); b. humano; e c. organizacional. Chamamos de recursos técnicos passivos aquelas estruturas e equipamentos empregados em edificações que não têm capacidade de emitir sinais de alerta ou proporcionar reação (por exemplo: muros, portões e grades). Já os ativos possuem capacidade de reação, alerta local e remotamente (por exemplo: sistemas de alarme, câmeras e controles de acesso). O recurso humano refere-se às pessoas empregadas na estrutura de segurança. Já os recursos organizacionais, de extrema importância, são as políticas, normas e procedimentos de segurança que disciplinarão atividades e processos da organização com objetivo de proteger bens e pessoas. O treinamento e capacitação de todos os envolvidos com a segurança são fatores condicionantes para o sucesso do projeto. Não basta treinar as equipes de segurança, os usuários precisam saber qual é seu papel no sistema.
Toda estrutura de segurança deve estar baseada, de forma equilibrada, nesse tripé: recursos humanos, técnicos e organizacionais. Caso exista muito investimento em tecnologias sem pessoas capacitadas, os objetivos de proteção não serão atingidos. Tão pouco exagerar em equipamentos e pessoas sem a preocupação com a elaboração e implementação de normas formais capazes de disciplinar os processos e procedimentos, como por exemplo, a rotina empregada em casos de incêndio.
Em tempos de crise, a segurança corporativa vem ocupando uma pauta cada vez maior nas agendas das empresas. Ela vem se destacando nas atividades de gestão de riscos, prevenção de perdas e continuidade dos negócios, tornando-se um diferencial competitivo. Atualmente a segurança corporativa é uma área estratégica para o crescimento e desenvolvimento das empresas. Passou a ser um campo específico de conhecimento, trabalho proativo com foco na prevenção, redução de perdas e gerencia os riscos intrínsecos às atividades empresariais. Pode ser classificado como investimento, posto que, bem empregado, pode trazer retorno financeiro, aumentando a lucratividade nas corporações.
Como efetivamente a segurança pode gerar lucro às organizações?
• Prevenindo fraudes: que de tão graves até provocaram a criação de leis específicas, como a Lei Sarbanes-Oxley (SOX), que trata da reforma da legislação de mercado de capitais nos EUA.
• Controlando a fuga e o furto de informações estratégicas: que podem comprometer anos de pesquisa e investimentos em marketing para o lançamento de um produto revolucionário.
• Protegendo o capital intelectual: se as pessoas não tiverem segurança e tranquilidade em seus locais de trabalho, não irão dispor de todo seu potencial produtivo.
• Preservando a imagem das empresas: Quanto custa a imagem da sua empresa? Quanto custará mudar uma imagem negativa vinculada a ela?
• Prevenindo furtos e quebras: o varejo, por exemplo, tem margens de lucro médias em torno de 3% e possui uma das maiores perdas e quebras do mercado. Quão expressivo seria um trabalho de prevenção de perdas que contribuísse com o aumento de sua lucratividade?
• Gerenciando os riscos da cadeia logística.
• Gerenciando crises; entre outros fatores.
Diferente do passado, quando a segurança era feita de maneira empírica e os resultados não eram mensurados, hoje é possível medir a eficiência e o retorno do investimento realizado. Com todas essas mudanças no cenário empresarial, vislumbramos que em pouco tempo a segurança corporativa estará alinhada com as áreas estratégicas da empresa, empenhada na prevenção de perdas, gerenciando os riscos existentes e apoiando a governança corporativa.
Como se sabe, alguns riscos são cruzados, ou seja, um risco pode potencializar outros. Por exemplo, o risco de invasão de áreas privativas da empresa potencializa o risco de roubo de informações confidenciais. Porém, atualmente, cada um desses eventos está sob uma área de responsabilidade diferente: o gestor de riscos relacionados ao patrimônio cuida da prevenção de invasões e dano ao patrimônio; o gestor de segurança de TI cuida da proteção das informações e conhecimento; a área de gestão de riscos e compliance cuida dos riscos corporativos de uma forma global.
Para administrar riscos em diversas áreas de competência específica, não se faz necessário conhecer profundamente essas áreas, uma vez que a equipe pode ter especialistas no nível seguinte da estrutura. Ou seja, um diretor de gestão de riscos corporativos pode contar com gerências de riscos específicos. Esse mesmo diretor será o responsável pela qualidade da elaboração de planos de emergência, contingência e recuperação, entre outros projetos globais de segurança. No futuro, certamente, um único profissional coordenará a gestão de riscos nas grandes organizações, sejam eles financeiros, operacionais, de mercado ou lógicos.
Portanto, entendemos ser necessário o intercambio de ideias entre os gestores de segurança e os profissionais de facilities, em harmonia com as demais áreas da organização, visando à elaboração de projetos eficientes e seguros para seus empreendimentos. Outro caminho interessante é a busca de qualificação profissional na área de segurança em cursos universitários, congressos e cursos ministrados por associações como a Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (Abseg).
Desejamos que sua organização fortaleça este debate e proporcione ambientes agradáveis, eficientes e seguros aos seus colaboradores e consumidores!
Por: Tácito Augusto Silva Leite, DSE, ASE, Presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (Abseg) e Diretor de Segurança da Indra Tecnologia.
A importância do conhecimento da área de segurança pelo profissional de FM
Reviewed by Consultor de Segurança Eletrônica
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22:38:00
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